×
Encontro de Síndicos

Análise setorial da Construção Civil nesta fase de pandemia

Por Marco Adnet – sócio-diretor da Konek, empresa associada da Ademi-RJ (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário)

O setor de Construção Civil Leve, que abrange construtoras e incorporadoras e toda a cadeia de produção e serviços, incluindo aí não apenas fornecedores de insumos e material de construção, mas também as empresas fornecedoras de serviços tais como arquitetos, cartórios, imobiliárias e tudo mais que compõe o ciclo do investimento imobiliário, vêm se adaptando ao novo cenário, mais digital do que nunca, onde as atividades de uma forma geral estão sendo replanejadas.

A retomada que já vínhamos experimentando continuará, embora em ritmo mais cauteloso e acreditamos nisso para breve. Buscando simplificar a análise, a preservação de empregos se mantém até o momento e também a continuidade das obras com a mão de obra possível e disponível. Nosso setor que recentemente enfrentou 3 anos de forte recessão, onde desde 2015 até 2018 vivenciou uma perda expressiva de receita, especialmente oriunda dos distratos contratuais, aliado a queda da demanda pela recessão imposta pela queda atividade econômica desde 2015, encontrou novamente seu caminho de crescimento já no final de 2017 em São Paulo e já a partir do final de 2018 no Rio, principais polos de negócios. Os números são expressivos e mostram que o setor está muito melhor posicionado para enfrentar esta mudança atual e repentina de cenário do que estava em final de 2015.

Vejam:

Em 2015, vínhamos de quase uma década de crescimento forte de lançamento e vendas, atingindo números próximos a R$ 35 bi em São Paulo e R$ 25 bi no Rio no auge do movimento imobiliário. O acúmulo de uma década de entrada expressiva de capital no país e na Bolsa para novos investidores no setor, através das aberturas de capital das empresas que totalizaram perto de US$15 bi acumulados entre 2005 e 2015, e de fortes investimentos diretos ou indiretos no setor, ocasionou transformações estruturantes no que se implementou, incluindo aí também investimentos para uma Copa e uma Olimpíada, com obras de metrô e de infraestrutura urbana, valorizando bairros, onde várias empresas se capitalizaram e cresceram até desordenadamente nesta fase.

De uma forma abrupta enfrentamos uma mudança rápida de cenário político em maio de 2015 e que atingiu a economia e o setor, que estava estocado em unidades prontas e também em construção, e que estava se endividando a juros na casa de dois dígitos, acreditando numa expansão nacional. Após esta fase recessiva, algumas empresas não conseguiram se manter atuantes e outras ultrapassaram, com uma visão mais conservadora, buscando a retomada que se iniciou em meados de 2017 em São Paulo e que agora vinha se consolidando em 2020 onde o setor vinha retomando maiores volumes de lançamentos e vendas.

Entramos em 2020 com números importantes, especialmente em São Paulo, que atingiu R$ 40 Bi em lançamentos em 2019, e no Rio R$6 Bi, o dobro de 2018, sendo a velocidade de vendas acima de 70% em São Paulo e da ordem de 50% no Rio. Sendo assim o setor enfrenta este cenário atual numa situação oposta a de 2015, onde existem poucos estoques na maioria dos bairros e pouco endividamento. Assim acredito que os investimentos em novos negócios não cessarão, embora vá diminuir o ritmo e o volume com prazos de retorno mais alongados e prêmios de risco maiores exigindo maiores taxas de retorno e até margens de lucro maiores para proteção.

Para finalizar é impossível se prever a extensão do tempo desta recessão de curto prazo já contratada pelo isolamento imposto pela COVID19, mas é fato que não prevejo empresas do setor insolventes pela posição atual de caixa e alavancagem hoje demonstradas nos balanços recém-publicados daquelas que são abertas e negociadas em bolsa.

Mesmo aquelas empresas de menor porte e fechadas estão todas bem enxutas e mais eficientes na gestão operacional, vivendo um projeto por vez, o que lhes dá condição de replanejar e renegociar para um momento mais seguro e de maior confiança, seja do consumidor ou investidor, para seus novos lançamentos que certamente encontrarão uma nova demanda. O maior legado até agora desta pandemia para o setor é que aprendemos que temos como atuar de forma mais eficiente nos custos e nos processos, usando ferramentas digitais em todas as etapas do processo de investimento.
Vamos seguir melhores.

Publicar comentário